O sambista Arlindo Cruz já virou perito em músicas de novela. "Meu lugar", tema do bairro do Divino, é a terceira seguida do cantor carioca a ganhar um espaço na faixa das 21h da TV Globo.
Para conseguir seu lugar na trilha de "Avenida Brasil", aceitou alterar o bairro cantado na letra de seu famoso samba. Em vez de versar sobre "Madureira", regravou o trecho e passou a celebrar o bairro fictício Divino. Esse também é o nome do time de futebol com candidatos a craques como Roni (Daniel Rocha), Jorginho (Cauã Reymond) e Leandro (Thiago Martins).
Com bom humor, Arlindo reclama da falta de jogos na novela ("O time só treina, é para mostrar os galãzinhos"), mas elogia o fato de "Avenida Brasil" retratar o lado b do futebol brasileiro. "Ela mostra não só o glamour, os jogadores ricos. Tenho um sobrinho que foi para o Equador jogar bola. Nem todo mundo tem oportunidade de comer o bolo", explica.
G1 - Como foi adaptar a música para falar do Divino, em vez de Madureira?
Arlindo Cruz - Foi uma surpresa me pedirem isso, foi o Mariozinho Rocha [diretor musical da Globo] que pediu. A editora achou esquisito... Eu relutei um pouquinho, fiquei pensando. Mas é uma obra de ficção, no fim aceitei. Quiseram fazer o Divino como se fosse Madureira. Há coisas que não existem no subúrbio carioca, a pilantragem que toda novela tem. O grande núcleo da novela, a trama principal, está sendo passada no subúrbio, com gente que luta.
G1 - Soube que ficou emocionado ao ouvir a música nas primeiras cenas do primeiro capítulo. Como foi isso?
Arlindo Cruz - Foi uma surpresa ver a novela começando com minha música. Teve gente que deu uma reclamada, estavam esperando que falasse "Madureira". Mas eu gostei. Madureira é a capital do subúrbio carioca e está sendo homenageada. Tem um time de futebol, comércio, mulher bonita, mulher "levada", tem malandro e trabalhador. Divino é igual Madureira.
G1 - Nos shows, estão cantando qual versão, a sobre 'Madureira' ainda?
Arlindo Cruz - Madureira sim... O pessoal já conhece bem a música... Eu quero é que cantem, de qualquer jeito. Todo mundo sabe que é Madureira, até porque a música me deu a maior notoriedade como compositor. Começaram a me notar como intérprete.
G1 - Você disse que ficou relutante ao aceitar a mudança de 'Madureira' para 'Divino'. Por que, então, decidiu aceitar a troca?
Arlindo Cruz - Eu vi que outras grandes músicas já tiveram alguma coisa alterada, para servir a uma campanha publicitária, a uma peça de teatro, a um filme. Gostei da história, no fim. Fiquei feliz. Tim Maia e Ivan Lins já mudaram letras. São exemplos emblemáticos.
Débora (Nathalia Dill) vai ao treino do Divino e observa Roni (Daniel Rocha) conversar com Jorginho (Cauã Reymond) (Foto: Divulgação/TV Globo) G1 - Tem acompanhado 'Avenida Brasil'?
Arlindo Cruz - Eu costumo ver novela, sim. Não vou esconder. Se estou na trilha, eu tenho ainda mais prazer de ver. É bom saber que estão me ouvindo... Já é minha terceira novela no horário nobre seguida.
G1 - Estar na terceira novela das 21h seguida é como ser tricampeão?
Arlindo Cruz - Eu tricampeão, essa é boa... [risos] Eu estou me sentindo a Espanha [recentemente se tornou tricampeã da Eurocopa]. É sempre bom. Meu repertório é do gosto popular e novela é algo popular. Meu público é o povão, que curte os sambas. É bom saber que faço parte disso. Um povo inteiro está ligado. Hoje, é tão difícil estar nas rádios, vender discos. É importante estar na televisão, com tantas coisas juntas e misturadas.
G1 - Para você, o futebol é tratado com realismo em 'Avenida Brasil'?
O time só treina, não joga. [risos] É só para passar os galãzinhos. Mas ela mostra não só o glamour, os jogadores ricos. Tenho um sobrinho [Otávio Junior, de 23 anos] que foi para o Equador jogar bola. Nem todo mundo tem oportunidade de comer o bolo. Só um terço consegue ficar rico, ganhar dinheiro com futebol. Poucos são Zico, Romário, Ronaldinho Gaúcho... Meu sobrinho jogou nas divisões de base, fez um gol pelo Nova Iguaçu contra o Bangu. Existem jogadores que não têm estrela, não têm apoio da mídia. É difícil vencer. Os jogadores do Divino são duros. O Tufão é que conseguiu um glamourzinho e o filho dele não consegue. Filho de peixe nem sempre consegue ser peixinho.
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